Yes, temos vinificação em ovo, sim senhor!
Hoje vamos falar do “Ovo de Concreto” ou Cuve Ovoïde, uma releitura moderna tanto das ânforas e Qvevris…
Dizem que, quando voltamos às origens, entendemos nossa própria história e reconhecemos nosso papel aqui.
Pois bem, com o vinho não é diferente. Quando evoluímos apenas tecnologicamente e ignoramos a natureza selvagem e o espírito livre do vinho, perdemos sua essência, anulamos sua história e ele perde seu propósito.
Valorizar a sabedoria ancestral é evoluir honrando nossas origens e respeitando nossa história, para poder usufruir, com respeito, das facilidades científicas e tecnológicas do mundo moderno.
Seguindo esse conceito, hoje vamos falar do Ovo de Concreto ou Cuba Ovoide (Cuve Ovoïde), uma releitura moderna tanto da ânfora romana quanto do Qvevri s da Geórgia, que veio empoderar a sabedoria ancestral.
Historicamente, a partir da metade do século XVIII, esses recipientes de cerâmica foram gradualmente substituídos pela madeira e pelos tanques de concreto revestidos de epóxi. No século seguinte, barris e tonéis se popularizaram e, no último quarto do século XX, o material predominante passou a ser o aço inoxidável.
Essa curiosa cuba de concreto em formato de ovo foi criada em meados de 2001 pela Nomblot, a pedido do enólogo Michel Chapoutier, do Vale do Rhône. Em 2009, chegou finalmente à América do Sul pelas mãos do enólogo chileno Álvaro Espinoza. A partir daí, a técnica se expandiu para a Argentina e chegou também ao Brasil.
A adoção dos ovos de concreto está diretamente ligada ao manejo biodinâmico do vinhedo e é acompanhada de um discurso simbólico forte: o ovo é vida, o ovo é a forma perfeita.
O grande ovo cósmico se manifesta nas mais diversas mitologias e está presente nas culturas mais longínquas. Os ovos são símbolos da Lua, da Terra, da mulher, do nascimento, da renovação, da fertilidade, da adivinhação e, principalmente, da criação.
Sua forma e seu tamanho foram calculados de acordo com as regras do número de ouro (1.618) ou proporção áurea, utilizada desde a Antiguidade por arquitetos, pintores e artistas para criar obras com proporções perfeitas, como as Pirâmides e o Pártenon.
Devido ao seu formato oval vertical, os movimentos de vórtices criados nesse modelo de cuba promovem um movimento contínuo do vinho, provocando maior contato com as borras e homogeneizando as lias (borra residual de células de leveduras). Isso descarta naturalmente o processo de bâtonnage, no qual o vinho é agitado regularmente com uma vara ou bomba para espalhar as borras que se concentram no fundo das barricas.
O tanque ovóide, fabricado com concreto natural, promove uma micro-oxigenação lenta. A ausência de reforço metálico impede a interferência nos deslocamentos iônicos dos constituintes naturais do vinho. A intervenção da mão do homem é mínima, limitando as doses de enxofre e respeitando sempre as especificações da viticultura biodinâmica.
Pode ser utilizado na vinificação de um vinho tinto e, posteriormente, de um branco, sem qualquer interferência entre eles — o que seria impossível em barris de madeira. Além disso, é significativamente mais fácil de higienizar e costuma ter uma vida útil muito maior do que a madeira.
Nem todas as castas se beneficiam desse processo (como Pinot Noir e Merlot), mas variedades como Chardonnay, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Chenin Blanc e Riesling apresentam melhorias significativas, resultando em vinhos mais untuosos, aromáticos, frutados e com taninos mais polidos. Esse método permite fugir um pouco da baunilha e das notas tostadas tão emblemáticas dos vinhos maturados em barrica.
Que tal tomar um vinho feito no ovo?